
A discussão sobre o fim da escala de trabalho 6×1 — ou seja, seis dias de trabalho seguidos por apenas um dia de folga — vem ganhando força no Brasil. Para a professora e pesquisadora Marilane Teixeira, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Unicamp, a redução da jornada para 36 horas semanais e a adoção de escalas mais equilibradas podem trazer impactos positivos significativos: mais emprego, aumento da produtividade e melhora na saúde dos trabalhadores.
Ao contrário de previsões pessimistas, a economia não seria paralisada com essas mudanças. Em sua análise, a proposta de escala 4×3 — quatro dias trabalhados e três de descanso — permitiria que novas contratações ocorressem justamente nos dias em que haveria folga para outros funcionários.
Utilizando os mesmos parâmetros dos economistas que previram perdas, o estudo da pesquisadora revela que a produtividade poderia crescer cerca de 4,5% com a redução da jornada. Para setores como comércio e serviços, ela estima ainda um potencial de criação de entre 4 e 4,5 milhões de empregos.
Do ponto de vista da saúde, a mudança também seria benéfica. Teixeira destaca o impacto da escala 6×1 na saúde mental dos trabalhadores, citando cerca de 500 mil afastamentos causados por transtornos psicossociais em 2024 — resultado de ambientes de trabalho com pressão, assédio e metas intensas. Para Teixeira, essa não é uma pauta isolada: a reforma teria benefícios coletivos. Um período de descanso mais longo não só melhoraria a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também poderia estimular a economia pelo aumento do consumo — mais tempo livre significa mais demanda por lazer, educação e cultura.
A proposta de mudança já se conecta a uma agenda política: há uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em tramitação para reduzir a jornada para 36 horas semanais, com escala 4×3, sem redução salarial. Além disso, centrais sindicais e movimentos como o “Vida Além do Trabalho” têm pressionado por avanços legislativos nesse sentido.